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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Noites de Batalha

A noite da batalha começa com as pinturas de guerra. Cada guerreiro, em seu território, pinta seu rosto de acordo com sua tribo. Uns se limitam a alguns traços abaixo dos olhos. Outros acrescentam riscos vermelhos nas maçãs do rosto. Outras tribos, as mais agressivas, empolgam nas pinturas: abusam das cores e vão das têmporas até os lábios. Mas todas têm algo em comum: antes de qualquer outra coisa, elas escondem as fraquezas em seu rosto. Afinal, este é o objetivo das pinturas: mostrar-se forte para amedrontar os adversários.

Além da pintura, há também as armaduras: maiores, menores, mais vistosas, mais discretas. Todas condizentes com as fraquezas e forças do guerreiro, com sua vontade (ou não) de lutar na guerra. A pintura e a armadura se completam; a tribo que se pinta mais geralmente também se preocupa mais com a cobertura da cabeça.

E assim, devidamente ameaçadores, um a um os guerreiros deixam seu território e vão para o campo de batalha.

É mais comum, na verdade, que eles vão em bandos. Grupinhos de guerreiros de uma mesma tribo, escoltados por um general enquanto este dá instruções sobre a batalha que está por começar. O general sabe que quase nada do que disse será ouvido, mas pelo menos consegue combinar um sinal para bater em retirada. E, assim, chegando em grupos para causarem uma impressão mais assustadora, os guerreiros adentram o campo de batalha.

Uma vez lá dentro, o grupo se separa. Porque, apesar de todos pertencerem a uma mesma tribo, a luta é individual. Vitorioso não é aquele que derruba e destrói seus adversários, mas sim aquele que conquista o Prêmio.

E esse é indivisível.

Ninguém se considera traídoespera-se que lá dentro seja cada um por si. Essa não é uma guerra como outra qualquer; é mais complexa. O objetivo é diferente. Destruir seus adversários é uma mera estratégia para que conseguir o Prêmio seja mais fácil. Não há armas: os combates são corpo-a-corpo, e o que vale é a habilidade de machucar o outro. Mas os ataques são sutis, porque é de extrema importância manter as aparências. Apesar do clima de hostilidade, as ameaças passadas claramente pelo olhar são disfarçadas com sorrisos "amistosos" e doces palavras ambíguas.

A batalha segue em ritmo lento. Pouco a pouco, o número de guerreiros na luta diminui. Alguns são derrubados por si próprios, sendo eles seus piores inimigos. Outros desistem por falta de interesse, e se juntam aos "civis" para assistir aos confrontos sutis. A maior parte é derrubada pelos guerreiros mais fortes, e, do meio da batalha para frente, já chama seus generais e bate em retirada. Os poucos que restam continuam em sua luta ferrenha, tentando atacar discreta e eficientemente de uma só vez.

Até que por fim – não!

A batalha acabou. Um dos guerreiros conseguiu o Prêmio; aos outros só resta ir cuidar das feridas num canto ou ir para casa de mãos abanando. Os guerreiros mais orgulhosos tentam agir como se nunca tivessem lutado. Mais importante do que vencer é não mostrar que perdeu. E a posição de desdém perdura até o dia seguinte. Para alguns é difícil acordar, para outros é quase impossível. Alguns deixam claro que foram derrotados. Outros – normalmente os guerreiros mais próximos do vencedor – fingem que não entraram na guerra. "Estou feliz por você. Você venceu. Eu nunca quis o Prêmio": é esse o discurso que geralmente se repete. A diplomacia entra em ação para evitar possíveis conflitos, todos agindo como se nunca tivessem lutado.

E, então, uma notícia muda tudo.

O boato corre de boca em boca – a vitória não fora justa. O Prêmio fora adulterado, não estava em condições normais. Talvez fosse possível anular a última batalha – agir como se ela nunca tivesse
acontecido!

O desdém se vai em segundos. Antes do fim do dia, já há outra batalha marcada. Os guerreiros já se preparam; começam a treinar seus ataques, planejam as estratégias, pensam nas próximas pinturas e armaduras – e, claro, na combinação das duas.

E começa tudo de novo, algumas noites depois. Porque, enquanto a guerra não acabar, sempre existirão noites de batalhas.

-X-

Postei até cedo. Não se acostumem. =)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A culpa é da Lila

Sim, a culpa é da Lila. A culpa é toda da Lila.
Mas antes que vocês queiram apedrejar minha pobre amiga, deixem-me explicar.

Sempre gostei de escrever. Aliás, acho que isso não é mistério nenhum para quem me conhece (ou seja, provavelmente para qualquer um que lê esse blog). A questão é que, para mim, mostrar meu texto para outras pessoas sempre foi um problema. Sou uma pessoa tímida, fazer o quê?, e a opinião alheia conta muito para mim.
Mas, desde um dia na sexta série, eu fui perdendo a vergonha e o medo (principalmente o medo) de mostrar meus textos para os outros. E agora, eu não consigo sossegar com um texto no computador - eu mando pra todo mundo que estiver online.

Uma dessas pessoas é frequentemente a Lila, e eu acho que já enchi tanto a paciência dela que ela conseguiu me convencer a fazer um blog. Logo, a culpa é da Lila!

Não sei o que pretendo com o blog. Vou postar quando me der na telha, e quando eu tiver algum texto pronto. E, acreditem, é muito pouco provável que isso aconteça em um futuro próximo. Eu tenho três textos em processo de escrita ("O Menino Invisível", "Ponto de Vista" e "Noite de Guerra"), mas eles já estão assim há um bom tempo, e possivelmente continuarão assim por meses.
Então, por favor, tenham paciência. Ou não: nem precisam voltar. Vai que o meu tom os irritou?

De qualquer forma, lembrem-se: a culpa é da Lila!