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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sinônimo

Obs: alguns erros de digitação foram corrigidos agora (21:50): faltava um "se" depois do primeiro "não sei" e um "se" antes de "vou dormir". Desculpem por isso.

Não sei se fico pra aula ou se vou pra casa estudar. Não sei se estudo pra prova ou pro maldito do ENEM. Não sei se belisco agora ou se espero o jantar pra comer.

Não sei se vou dormir ou ainda tento estudar. Não sei se faço computação ou comunicação. Não sei se choro ou tomo banho, ou se concilio os dois.

Não sei no que acredito nem como ser.

Não sei! Não sei, não sei! Só sei do excesso de falta, da conciliação às avessas: mantenho ambos à mesma medida, sim, mas essa medida é zero.

Sei do estudo durante a aula que acaba por me confundir. Sei de comer agora e querer jantar depois, ou de esperar pelo jantar que nunca vem.

Sei do choro que não caiu e das noites mal dormidas, dos banhos frios e apressados e do estudo improdutivo. Sei do curso aleatório, que dá voltas e voltas.

E sei do cansaço, a única coisa cuja medida é mais de oitenta por cento. Que me corrói os ossos e afrouxa os músculos. Que me dá vontade de abrir as velas e ir à deriva, sem ligar para o curso que sigo, afinal.

E onde vou parar assim? Pois é, não sei.

Uma parte do cansaço já se foi, felizmente. A má notícia é que foi apenas a parte literal.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Forma-se a alma de um poeta

Dia após dia eu vou ficando oca. Meu corpo esvazia, minha mente esvazia, minha alma esvazia até que eu me torne nada mais do que uma máquina oca e sem vida própria. Como um coco que é atirado a um rio depois que se bebe sua água, sigo a corrente simplesmente por seguir e desemboco no mar sem saber ou ligar para onde estou.

O processo de me esvaziar não é voluntário e não é controlável. É culpa da seringa, ah, a terrível seringa! A seringa que me rasga a pele, que me sangra e rouba o que eu tenho de mais sagrado, vivo e novo dentro de mim. A seringa que rompe a fina casca, rouba o vitelo e não me deixa (nunca!) passar de embrião a indivíduo. A seringa que muitas vezes me abortou.

Mas há uma coisa que ela não consegue me tirar; o que eu tenho de mais sólido em mim e que, quanto mais dele me alimento, mais dele consigo. O vitelo que já me levou de embrião a gástrula, e vai originar um indivíduo até meio raquítico, mas com uma dura carapaça que seringa nenhuma é capaz de perfurar.

A única certeza dogmática que mantém minha sanidade quando tudo mais é tirado de mim: as minhas palavras.

Ok, pessoal, tenho mais duas divulgações para fazer hoje. A primeira é do blog da minha querida amiga Tereza (@terezilda), o http://terezilda.blogspot.com. Ela escreve muito bem e merece muito uma olhada além do primeiro post; quando você lê os textos dela, entende que são sinceros e reais. Recomendo a todo mundo.
A segunda divulgação é o blog do meu também querido amigo Pier (@_OPoeta), outro que tem a manha com as palavras, o http://diariosdumpoeta.blogspot.com. Os poemas dele são sensacionais e dá pra ver que as palavras vão a ele com a naturalidade com que as tartarugas buscam o mar.
Só para vocês terem noção, os blogs deles tão ali do lado, no "Diga-me com quem andas". Isso não é pra qualquer um não, hein! Então deixem comentários full of love para eles, porque eu acho que escritores como eles merecem todo o apoio possível! ^-^

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ilusão, Frustração

Confesso que esse texto não é um dos meus melhores trabalhos, mas eu realmente estou com vontade de postar. Leiam com carinho.

A noite cai e, com ela, caem as lágrimas no rosto da garota que se frustrou mais uma vez. Ela chega em casa e se enfia direto no banho para tentar se acalmar. E, principalmente, para tentar disfarçar as lágrimas e a vermelhidão nos olhos e no rosto com a água quente, quase fervendo. Alguns minutos e muito vapor depois, ela sai do banheiro enrolada na toalha, o choro controlado, a pele toda enrubescida com o calor.

Põe sua roupa, leva a toalha de volta para o banheiro, penteia o cabelo, seca com o secador, pondera seriamente se deve ou não fazer chapinha, se decide por não fazer e deita na cama com o iPod na mão. Sua mente se acalma e começa a vagar, agora que estão terminadas as muitas tarefas ligadas ao simples ato de tomar banho. E então a coisa degringola de novo.

O nariz começa a coçar; ela se esforça para reprimir o choro e apenas o intensifica. Antes que se dê conta, seus músculos do rosto estão se contraindo numa careta de dor, sua garganta está apertada e suas lágrimas escorrem de novo. Como se reduziu àquilo?, ela se pergunta. Mas a resposta é óbvia.

Os acontecimentos do dia passam em flashes diante de suas pálpebras cerradas. Ele nem sequer olhara para ela a maior parte do dia. Ele ficara abraçando outras meninas, amigas dele, indiferente à sua presença. E na única vez em que ele viera conversar com ela, ela não conseguira manter a conversa. Fora um total fracasso.

Seu coração bate apertado, ainda mais porque ela abraça os joelhos e o tórax com força. Frustrada, com raiva, ela se promete que vai esquecê-lo. Ela diz a si mesma que ele não vale apena. Que não faz sentido continuar com aquilo já que ela tem total controle do seu coração (mesmo sabendo que não tem), e que é melhor deixá-lo para trás. Até aí ela faz o mais sensato, exatamente o que tem que fazer para se sentir bem.

E então ela comete o erro:

- Eu vou achar alguém que vale à pena, sei que vou. É só continuar procurando.

É aí que ela erra, como todas as outras erram. É nesse momento que ela profere sua sentença e se condena a mais sofrimento, mantendo-se presa ao ciclo que é sempre o mesmo.

Começa com algo simples, banal. Uma gentileza, uma brincadeira, um contato mais longo das duas mãos, um olhar. Coisas que seriam vistas por pessoas sensatas como normais. Mas sua visão está turva e direcionada, e tudo toma proporções monumentais. De repente, surge essa sensação, e ela se diz apaixonada.

Apaixonada, mas sequer conversa com o rapaz. Apaixonada, mas não sabe dizer por quê. Apaixonada, mas não sabe sequer por quem.

Ela tenta e tenta se aproximar dele, e então há apenas dois possíveis passos seguintes: primeiro, ela não consegue, e se sente rejeitada (mas o rapaz sequer sabia que havia algo!); segundo, ela consegue, mas percebe que eles não têm nada a ver um com outro. Em geral ela insiste um pouco mais, mas só até o ponto em que a coisa se torna insustentável.

E, qualquer que seja o passo seguido, depois dele vem o sofrimento. Quando ele se torna demais, ela decide que é o bastante, e dá um passo na direção da liberdade - mas não consegue encerrar o ciclo, porque continua acreditando que “o amor está por aí, só basta procurar”.

A verdade é que não se deve procurar por amor, porque quem procura e não acha inventa, e se apaixona pela ideia de se apaixonar. E aí cria esperanças em cima de uma ilusão, cria uma possível felicidade em cima de uma ilusão. Se apaixona por uma ilusão. E, quando ela começa a cobrar seu preço, tudo cai por terra, sendo substituído pela dor da frustração.

Mesmo assim, ela não consegue impedir sua irrefreável procura pela ilusão.