Desde o período paleolítico, o homem já conhece o fogo. Na realidade, eu me atrevo a dizer que desde sempre o homem o conhece. Ele sempre esteve lá, queimando, ardendo sem ser visto. E então o homem o encontrou, e ficou fascinado por ele.
No começo, era apenas uma questão de necessidade. Era preciso proteger e manter a espécie, e as chamas tinham esse poder. Depois, com o tempo, elas perderam sua função de proteção, mas o fascínio que exerciam permaneceu.
Poucas coisas são mais bonitas e paradoxais do que o fogo. Ele ilumina as áreas escuras e nos dá uma ideia um pouco mais clara do que nos espera ali fora. Ele nos aquece, nos impede de ficarmos frios e rígidos. E as chamas tremulando são um verdadeiro espetáculo.
No entanto, ele é uma coisa perigosa. Ele precisa destruir algo para se manter vivo: a madeira que poderia ser usada para construir a casa; a gasolina que poderia nos levar longe. E, dependendo do que queima, ele é diferente: fogo de Palha, fácil de ser achada, acende e queima rápido. O fogo da madeira sempre tem que ser realimentado; o da gasolina é difícil de controlar. O melhor fogo é mesmo o fogo do carvão, resultado de experiências e queimadas anteriores.
Mas, qualquer que seja o combustível, é preciso atenção para lidar com o fogo. Um descuido e ele pode queimar mais do que deve; é fácil demais se machucar com ele. A ferida pode ser pequena; aquela que dói, mas dói pouco e não se sente; aquela de que a gente só se lembra quando cutuca o lugar machucado. Mas também pode ser uma queimadura séria, que machuca profundamente, que desfigura. E aí a gente corre e apaga o fogo, se afasta dele. Os machucados doem vinte e quatro horas por dia, e alteram até nosso semblante. A gente jura que nunca mais vai brincar com o fogo, mas, apesar de demorar muito, acaba cedendo e voltando para perto dele.
Poucas coisas são mais bonitas ou paradoxais do que o fogo. Ele representa ao mesmo tempo proteção e perigo; conforto, aquecimento, e dor; iluminação e incerteza. Talvez seja isso o que tanto fascina o ser humano a respeito do fogo. Não sei; minha única certeza é a de que serafins e cupidos andam de mãos dadas.
O homem se julga diferente dos animais por ser o "mestre do fogo". Isso é besteira; nós não controlamos o fogo, nos apenas o achamos. Na verdade, é ele que nos controla; é o fogo que temos dentro de nós que nos leva a fazer a maior parte do que fazemos. No fundo, nós estamos à mercê daquela beleza contraditória e tremulante.