Um dia, quando tinha 12 anos, eu entrei em casa e encontrei meu pai lendo na sala. Ele era escritor e, com frequência, recebia pedidos de amigos, conhecidos, conhecidos de amigos, para que lesse manuscritos e passasse-os para seu editor se gostasse. Geralmente, antes de passar para o editor, ele passava para mim, um amante de literatura em formação.
Naquele dia, perguntei-lhe sobre o livro; de quem era, se ele estava gostando. Era de uma amiga da filha de uma velha senhora, nossa vizinha, e, de acordo com o meu pai, era um primor de livro. Naturalmente, pedi-lhe que deixasse no meu quarto quando terminasse, mas, ineditamente, meu pai negou. Surpreso, indaguei sobre a razão.
- Esse livro contém uma mulher nua. Você ainda é muito jovem para ver esse tipo de coisa.
Eu era um amante da literatura em formação, mas, entendam, eu era antes um homem em formação. É claro que fiquei louco de vontade de dar uma espiada. Que tipo de detalhes poderia haver ali? Que tipo de descrição tão completa de algo que era para mim tão desconhecido poderia aquele livro fornecer, tão exata que fizesse com que meu pai nunca deixasse o manuscrito ao alcance das minhas mãos?
Aquilo encheu minha imaginação por dias. Na escola, na rua, deitado em minha cama, eu me pegava murmurando frases e construções, uma atrás da outra, tentando adivinhar o que a autora poderia dizer.
Um dia, cerca de uma semana depois, trombei com o manuscrito por acaso. Estava procurando qualquer coisa no armário do meu pai e acabei encontrando-o - era um sinal do destino para que eu o lesse. Ávido de curiosidade, com aquele medo terrível de ser pego que torna tudo melhor, fechei-me em meu quarto e li. E li. E li, páginas e mais páginas, capítulos e mais capítulos, um infindável monólogo sobre uma mulher e os homens que já haviam partido seu coração, ou os erros que ela própria havia cometido e a atormentavam todos os dias.
Parei de ler pouco depois da metade. Já havia desistido da minha mulher nua, mas, principalmente, alguma coisa na forma como a amiga da filha da minha vizinha explicava seus sentimentos mexera comigo. Eu não sabia que se podia sentir tanta coisa ao mesmo tempo, ou por tantas razões, ou de maneiras tão conflitantes.
Um pouco abalado, um pouco frustrado, guardei o manuscrito de volta onde tinha achado, mas meu pai sabia que eu tinha lido. Disse que estava estampado em meu rosto e me repreendeu pela desobediência.
- Mas não tinha nenhuma mulher nua lá! - me defendi, me lembrando das páginas infindáveis do interminável monólogo.
Meu pai desfez sua expressão séria e repreensiva, e abriu um sorriso de quem sabe alguma coisa a mais. Imaginei que ele fosse me dizer qual era a página, ou que ela estava escondida por um código secreto, mas sua única resposta me deixou ainda mais intrigado:
- Eu disse que você é muito novo para ver esse tipo de coisa, não disse?
Naquele dia, perguntei-lhe sobre o livro; de quem era, se ele estava gostando. Era de uma amiga da filha de uma velha senhora, nossa vizinha, e, de acordo com o meu pai, era um primor de livro. Naturalmente, pedi-lhe que deixasse no meu quarto quando terminasse, mas, ineditamente, meu pai negou. Surpreso, indaguei sobre a razão.
- Esse livro contém uma mulher nua. Você ainda é muito jovem para ver esse tipo de coisa.
Eu era um amante da literatura em formação, mas, entendam, eu era antes um homem em formação. É claro que fiquei louco de vontade de dar uma espiada. Que tipo de detalhes poderia haver ali? Que tipo de descrição tão completa de algo que era para mim tão desconhecido poderia aquele livro fornecer, tão exata que fizesse com que meu pai nunca deixasse o manuscrito ao alcance das minhas mãos?
Aquilo encheu minha imaginação por dias. Na escola, na rua, deitado em minha cama, eu me pegava murmurando frases e construções, uma atrás da outra, tentando adivinhar o que a autora poderia dizer.
Um dia, cerca de uma semana depois, trombei com o manuscrito por acaso. Estava procurando qualquer coisa no armário do meu pai e acabei encontrando-o - era um sinal do destino para que eu o lesse. Ávido de curiosidade, com aquele medo terrível de ser pego que torna tudo melhor, fechei-me em meu quarto e li. E li. E li, páginas e mais páginas, capítulos e mais capítulos, um infindável monólogo sobre uma mulher e os homens que já haviam partido seu coração, ou os erros que ela própria havia cometido e a atormentavam todos os dias.
Parei de ler pouco depois da metade. Já havia desistido da minha mulher nua, mas, principalmente, alguma coisa na forma como a amiga da filha da minha vizinha explicava seus sentimentos mexera comigo. Eu não sabia que se podia sentir tanta coisa ao mesmo tempo, ou por tantas razões, ou de maneiras tão conflitantes.
Um pouco abalado, um pouco frustrado, guardei o manuscrito de volta onde tinha achado, mas meu pai sabia que eu tinha lido. Disse que estava estampado em meu rosto e me repreendeu pela desobediência.
- Mas não tinha nenhuma mulher nua lá! - me defendi, me lembrando das páginas infindáveis do interminável monólogo.
Meu pai desfez sua expressão séria e repreensiva, e abriu um sorriso de quem sabe alguma coisa a mais. Imaginei que ele fosse me dizer qual era a página, ou que ela estava escondida por um código secreto, mas sua única resposta me deixou ainda mais intrigado:
- Eu disse que você é muito novo para ver esse tipo de coisa, não disse?