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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Ouça o que eu digo

(Texto dedicado à @JuAzeredo e à @Isah__lacerda ^-^)
Conselhos de alguém muito sábio


Criança...

Deixa eu te falar sobre coisas que eu entendo. Deixa eu te falar, e ouça o que eu digo.
Não tenha medo de se apaixonar. É sério, não tenha. Não suprime seus sentimentos, e não deixa cada decepção te fazer desistir do amor.

Criança...

Pode parecer absurdo. Talvez eu não entenda muito de amor. Mas eu entendo de gente. E eu entendo de lutar por aquilo que quero. Faz isso também. Tenha em mente o que você quer e luta por isso.

Eu sei, é difícil saber o que você quer. Mas, no mínimo, você quer ser feliz. Então luta pela sua felicidade!

Criança, lutar pela felicidade não é algo tão fácil. Ainda mais se você não sabe no que reside a felicidade.

Então descobre o que te deixa feliz, e luta por isso. Descobre o que te machuca, e deixa essas coisas irem embora. Ou tenta achar um jeito de contornar elas.

Seja corajosa. Confia em si mesma. Toda criança sabe, bem no fundo, que absolutamente tudo é possível. Por que você deixaria de acreditar?

Acredita nas suas descobertas e certezas de criança. Acredita que se uma coisa não deu certo agora, vai dar certo amanhã. Acredita em mim!

Criança, as coisas se complicam depois que a gente cresce.

Ou a nossa mente que complica as coisas? Nada muda, só a gente e as pessoas ao nosso redor. O funcionamento do mundo continua o mesmo. Se a sinceridade é o melhor caminho para se aproximar das pessoas quando a gente tem 12 anos, por que deixaria de ser com 17? Se ter disciplina e fazer as coisas na hora certa é o caminho mais rápido para a liberdade quando se está na 6ª série, por que isso tem que mudar no Ensino Médio?

Criança... eu sinto falta de você. Eu sinto falta da alegria juvenil que costumava ter, e da coragem com a qual costumava agir. Algo se perdeu no caminho. Deixei de acreditar em mim. E só percebo agora que preciso da sua ajuda. É muito tarde para isso?

É claro que não, adolescente bobinha! Nunca é muito tarde. É tarde, sim. Demorou a perceber. Mas você não me matou, só calou a minha boca. No seu desespero de crescer, você passou a me ignorar e ter vergonha das coisas que eu fazia.

Mas não é assim que tem que ser.

A partir de agora, me deixa falar do que eu entendo, e ouça o que eu digo.

domingo, 18 de julho de 2010

Utopia

Escrito em 11 e 12 de Junho; baseado em "Cartas para Julieta"

A mocinha apaixonada não foi ao seu encontro como haviam combinado. Ele ficou sozinho debaixo da árvore, contando as horas, esperando, inventando desculpas e motivos para o atraso. Ela os apresentaria quando chegasse, ele tinha certeza – mas ele também sabia que ela não chegaria.

Um romance meio Romeu e Julieta; eles não eram bons para o outro (teoricamente). Fugir era a única opção, mas ela desistira, amarelara. Porque ela sabia, bem no fundo, que aquilo tudo não passava de uma imensa utopia.

A idéia de fugir para longe era ótima e a acalentava. Um lugar feliz e afastado de todos; só deles. Sem pais, sem responsabilidades em relação à família. Mas isso era olhar para só um lado da coisa. Um lugar daqueles, livre de tudo, não existia. E a história de “o amor nos manterá vivos; sobreviveremos a base de amor” era linda e maravilhosa, mas só para os romances franceses. Era um sonho utópico.

Então ela não foi. Ela o deixou esperando sozinho, sem explicação ou pedidos de desculpas. Apenas o deixou lá, enquanto tentava achar coragem para encarar o mundo do plausível.

Ele não a procurou. Sabia onde ela morava, sabia como e onde ela passava os dias. Mas achou melhor não. Ela não aparecera; ela não o queria se a condição fosse largar tudo. E era. Não havia como levar o relacionamento adiante da forma como viviam.

Seria maravilhoso se seus pais acordassem de manhã e resolvessem que não havia problema. Se todas as rixas fossem deixadas de lado em prol do amor dos dois. Mas isso não aconteceria. Aquela história de “o amor supera qualquer barreira; é a força mais poderosa do mundo” era inspiradora, mas não real. Era a mais pura utopia.

Então ele desistiu. Parou de sonhar e juntou coragem para encarar o mundo burguês em que vivia.

Os sonhos de amor morreram. Os suspiros apaixonados cessaram. Os sentimentos tão fortes foram duramente reprimidos. Em ambas as mentes (e corações) adolescentes, tudo o que tinha relação com o amor foi colocado num cantinho reservado chamado “Sonhos Utópicos”, para acumular poeira.

Anos passaram. Dois jovens cresceram com a mais profunda descrença no amor e nos sentimentos. Dois jovens céticos. Mas eventualmente eles mudaram de ponto de vista. A vida fio se desenrolando a frente deles, e os acontecimentos os fizeram soprar a poeira daquele cantinho reservado em seus corações e mentes. Cada um reencontrou o amor de uma forma. Ambos casaram-se.

E, no fim, cada um viveu sua própria utopia separadamente.

sábado, 10 de julho de 2010

Saldo: 4. E contando.

Encaro o vazio, imersa em meus pensamentos e desânimos. A voz macia de David Guilmour entoa a letra de Time em meu ouvido, a trilha sonora do meu desconforto.

Algo entra em meu campo de visão, e eu saio das minhas considerações sobre os meus erros (e sobre os erros dos outros) para descobrir o que mudou. Esquadrinho a sala com o olhar e encontro: um casal, sentado exatamente no ponto que eu estava encarando.

Assisto-os por uns instantes. Olhares apaixonados, sorrisos, beijos roubados... Meu coração bate, rompendo as casquinhas de um ferimento antigo; recentemente reaberto e que acabara de recomeçar a sarar. Abaixo os olhos (agora mareados) para a carteira. Fungo, aumento o volume do iPod.

Tento me concentrar na música e afastar o clima romântico. Logo estou imersa novamente nas minhas confabulações. Sinto como se a aura de desânimo me fosse exclusiva, e isso só serve para aumentá-la. De repente, saio novamente dos devaneios, dessa vez sem razão. A música mudou – Boys Like Girls, agora; um salto de uns 30 anos.

Ergo o rosto. À minha frente, uma garota está encolhida; as mãos no rostos, os fones no ouvido. Giro o rosto um pouco; uma outra menina está sentada em sua carteira; os olhos arregalados em desespero e agonia silenciosos. Viro totalmente, para observar o fundo da sala. Um garoto mexe na mochila, procurando algo; seus olhos estão fundos, parecem desanimados.

Viro para frente de novo. Outros alunos estão entrando na sala, falando alto e começando a pegar o material. Arrumo o meu próprio; guardo uns cadernos e livros, pego outros. O iPod é deixado para o final; apenas no último minuto eu o desligo, enrolo os fones e guardo-os na mochila.

Nada mudou. Continuo tendo que encarar as mesmas consequências dos mesmos erros das mesmas pessoas. Mas algo está diferente. E, enquanto o professor entra na sala e inicia a aula, eu sinto a agora pequena aura de desânimo se dissipar quase por completo.