Não sou mais uma aluna de colegial, e sabem como eu sei disso? Não é porque vi os vídeos da minha formatura. Nem porque achei um xerox do meu histórico escolar na gaveta, e tampouco porque estou frequentando a faculdade. Não, o verdadeiro motivo nada tem a ver com minha vida acadêmica.
Acontece que eu conheci um cara. É, a história sempre começa assim. Garota conhece garoto, garota se apaixona por garoto, garoto parte o coração de garota. Só que dessa vez não foi bem assim. Eu conheci um cara – fim da história. E é por isso que eu sei que não sou mais uma colegial. Sim, explico.
Já ouviram a expressão "amor de colegial"? Na verdade, não sei se é uma expressão popular, mas, pra mim, é cheia de significado. Amor de colegial, aquele amor puro, inocente, virgem na experiência de amar. Aquele dos olhares derretidos, dos abraços roubados e dos arroubos de sinceridade nos quais sai um "eu te amo" ou um "meu dia não tem graça sem você" que nos fazem corar.
Por que de colegial? Porque, enquanto eu aprendia com a vida o que era amor, ele dava o ar de sua graça principalmente durante o colegial (que já há uns bons anos virou "Ensino Médio"). Então o "amor de colegial" é aquele primeiro amor, do coração que nunca foi partido ou que, se foi, ainda tem forças para bater freneticamente por causa de um simples olhar.
Eu conheci um cara. E passei pela história do "conhece, apaixona, se machuca" tantas vezes que, agora, parece que meu coração simplesmente não liga mais. A impressão que tenho é que o cara que conheci é uma cópia melhorada do meu primeiro amor (o qual, ironicamente, não foi no colegial), mas não adianta que ele me encare ou segure minha mão pelo motivo que seja: meu coração se recusa a bater. Não que o tal cara faça qualquer dessas coisas – ele passa por mim como passa por qualquer outra. E isso, apesar de me incomodar um pouco, não chega a me machucar.
Sei que estou reclamando de barriga cheia. Sei que, de um ponto de vista racional e afastado, isso quer dizer que eu aprendi minha lição e que não vou ter mais que passar pela dor de um coração partido. Mas eu não gosto das coisas desse jeito. Não gosto desse amor racional e controlado que sinto agora, não quero saber desse jeito realista de ver as coisas. Quero a emoção arrebatadora do romantismo e a desregragem (e liberdade de criar minhas próprias palavras) do modernismo. Quero o palpitar acelerado no coração, os sonhos vívidos durante a noite, a alegria efusiva por uma vitória insignificante, a dificuldade de desviar o olhar mesmo estando do outro lado da sala.
Não ligo para a dor do coração partido. Não me importo que o palpitar do coração não me deixe respirar, que os sonhos vívidos me façam derramar lágrimas de manhã por serem apenas sonhos e que as vitórias só sejam vitórias na minha cabeça. Não fico assim tão triste de sofrer - toda forma de sofrimento é válida se virar literatura. E a minha literatura é a minha vida. Logo, toda forma de sofrimento é uma forma de viver.
No fundo, bem no fundo, tenho medo de que meu coração nunca consiga recuperar sua inocência e nunca seja capaz de se entregar por completo a mais ninguém. Mas não sei. Talvez seja o momento (há tanta coisa acontecendo que minha razão resolveu assumir o controle), talvez seja o fato de que meu coração tem batido aos trancos e barrancos nos últimos dias por causa de uns certos ferimentos.
Eu não sou mais uma aluna de colegial. Meu coração já o sabe e, em caso de dúvida, é só procurar meu comprovante de matrícula da faculdade. Sendo assim, jamais terei outro amor de colegial. Mas, ei! A vida acadêmica continua, não é? Pode ser que exista para alguém uma expressão que até então me é desconhecida: amor de faculdade. E pode ser, também, que ele seja ainda melhor.